Por Ranier J. de Souza
Um apresentador de tevê que adota o estilo franciscano, que faz do seu trabalho uma verdadeira "água com açúcar" e que finge não ver as mazelas que ocorrem no seu entorno a partir de um campo social minado, obviamente que a sua audiência vai estar em baixo nÃvel. Aquele que trabalha ao estilo politicamente correto e adota um modo de ver os fatos de acordo com a sua particularidade e os seus projetos pessoais, os telespectadores também observam esse tipo de comportamento dos homens de mÃdia.Em Cuiabá e dali para Mato Grosso, os telespectadores televisivos e os ouvintes do rádio já se acostumaram a ver e a ouvir um cara chato pra cacete, polêmico e até controvertido, do tipo que não costuma engolir sapo e ainda tem o respaldo de seu patrão. Esse é Clóvis Roberto, no ar há vários anos e declaradamente anti-lulista, e que não faz um tipo, mas tem estilo e não é politicamente correto, daÃ, ser polêmico e controvertido. Tornou-se um nome que serve a discussões em bares, botequins, nos lares e até mesmo naqueles gabinetes onde a sua figura e aquilo que fala não é bem digerida.
Uma fã, de 85 anos, lúcida e que tem em Clóvis Roberto um bom sujeito, a minha mãe, dona Ana Josefa de Souza, do bairro Poção, já convive com esse personagem midiático há anos, entrando em nossa casa como se fosse um de nós, de uma famÃlia de 'tchapa e cruz' desta terra de Dom Aquino Corrêa e de dr. Clóvis Pitaluga de Moura. Aliás, este apresentador televisivo, seguramente, já faz parte da nossa história, deixando Rondonópolis para se tornar uma figura lendária em Cuiabá, exatamente pelo que faz, vê e fala acerca dessa capital amada por muitos e historicamente berço de fulgurantes personalidades sociais e polÃticas.
Doente, Clóvis Roberto está ausente da telinha e muitos sentem a falta que faz a sua presença fÃsica nos meios da comunicação de massa. Tem tantos admiradores e proporcionalmente alguns tantos elementos que não gostam dele, tanto assim. E assim foi e assim será, exatamente pela sua postura firme e por sua reação diante das tragédias sociais que acometem Cuiabá e o resto de Mato Grosso e que passam pelo seu crivo, enquanto âncora de um dos programas mais vistos na tevê mato-grossense, sugestivamente, uma nomenclatura que caberia bem aos maus polÃticos: Cadeia Neles.
Privados temporariamente e a letra fria da realidade, até definitivamente, da sua capacidade profissional, resta-nos citar que estamos na iminência da perda de um de nossos baluartes de uma realidade social cruel e que é propagada para a população sob o olhar crÃtico de um profissional que criou estilo próprio de fazer tevê, através da "porrada" e do "tranco" sobre aqueles que tem o dever e a obrigação de mudar essa panorâmica.
Provavelmente, João Dorileo Leal não encontrará talento semelhante e estamos já com essa lacuna impreenchÃvel em nossa telinha, apelando ao quase impossÃvel, á restituição de nossa dignidade social através do trabalho de Clóvis Roberto. Oxalá! Alguém lá do alto nos ouça e adie a sua partida.
Nossas rogativas foram em vão, Clóvis Roberto encerrou o seu programa terreno no final da tarde de ontem (03/11) e foi enterrado no Cemitério Parque Cuiabá, depois de concorrido velório na Capela Jardins. Foi-se uma das maiores referências de um jornalismo intimerato e ficaram as lembranças de um bom homem, de um bom pai, de um avô compenetrado e de um profissional sem meias palavras e ousado.
São os desÃgnios de Deus e quem somos nós para questionar essa realidade?